quarta-feira, 5 de junho de 2013


Dica Literária


Resenha por Antonio Gil Neto

A borra do café, de Mario Benedetti, Editora Alfaguara
Nesse, ando pela metade. Vou e volto. Leio e releio trechos aqui e acolá. Talvez quisesse ter escrito este texto. Uma joia. Com saudade de algo maravilhoso que já aconteceu e ainda pode acontecer. Às vezes esqueço-o num canto e depois recomeço a ler um trecho que já li, inteiro-me do que já havia sentido e vou adiante. É mais um livro tocante. Parece uma conversa que se estende, tendo a infância como base. O personagem Cláudio percorre os bairros de Montevidéu, em sua iniciação adolescente, graças à mobilidade doméstica da família, que mudava de lugar constantemente. Penso que há toques de memória e invenção mesclados de ilusão e fantasia no que seria uma biografia. As palavras estão impregnadas de passado como se fossem a vida em si, em que se vive e que nunca se abandona. As lembranças da infância são surpresas habilidosas de lirismo e humor a quem se presenteia leituras: as brincadeiras de rua com os amigos, as constantes mudanças de bairro com a família, a trágica morte da mãe e a descoberta do amor e do sexo. São cotidianos singelos, transparentes, líricos, contados com uma poesia encrustada na obra narrativa. O livro para mim é cálido como uma manhã de primavera. Dessas que a gente precisa de quando em vez. Estou a ler no quando em vez para deixar a vida com frestas de manhã de sol. E de primavera. Pouco motivo?

Nenhum comentário:

Postar um comentário